DORMINDO AO LUAR
ENTENDO MELHOR
OS SONHOS DOS ASTROS
NA PALMA DE MINHA MÃO
CONTEMPLO CAMINHOS
PERCORRIDOS EM VÃO
SÃO LATIDOS NOSTÁLGICOS
OS BRADOS DOS GATOS
METAMORFOSEADOS
SEMPRE QUE CHOVE
DO CÉU DESPENCAM
OS PEIXES DOS MARES
OS DOIS OLHOS DELA
FAISCAVAM NA NOITE
UM PAR DE CÉSIO
NEM ESQUERDA NEM DIREI
QUE NADA ME FALTA
NO CENTRO DA ALMA
FEITO DE LAMA E PEDRA
O LEITO DO RIO É A CAMA
ONDE DORMEM OS AFOGADOS
LIVROS E VELAS
SILÊNCIO, VITRAIS
E UM GATO ADORMECIDO
AOS SALTOS AS HORAS
PERCORREM REDONDAS
OS PERFUMES DO TEMPO
SEM RUMO NEM MOCHILA
APENAS UMA GUITARRA
NOS MEUS OMBROS CHORA
ANDORINHAS SÃO PENAS
CAÍDAS DOS OUTROS PÁSSAROS
A VOAR
NÃO DUVIDEMOS DA ORDEM
NÃO PISEMOS NA GRAMA
NÃO PENSEMOS NA MORTE
NO ESPAÇO AZUL ENTRE A NUVEM
E O CÉU
ESTICA-SE O MAR EM CURVA
BARES, MÚSICA, BLUSH
BRINCOS, BATOM, ALL BLUES
AS ESTRELAS CERCAM A LUA
PELAS PEDRAS MOLHADAS
NA CHUVA
UM PADRE CAMINHA NA RUA
ERA ALVA, MUITO BRANCA
USAVA ANEIS
E NOS CABELOS UMA FLOR
A MOSCA SOBREVOA EM CÍRCULOS
O NARIZ RETO
DO DEFUNTO FLORIDO
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
domingo, 23 de novembro de 2008
RESSURREIÇÃO
Na fria noite
Da cidade grande
Sob a marquise dormem
Um velho, um menino e um cachorro
Sobre pedaços de papelão
Suave colchão
Zunindo em tropel de cavalaria
Passam carros projetando luminosas cores
Rumo aos úteros da noite
Na calçada
Pétrea
Namorados, bêbados, turistas
Advogados, porteiros, travestis, prostitutas
Garçons, oftalmologistas
Protestantes, balconistas e maçons
Seguem em procissão
Passam todos
Caudaloso rio de carnes com botões
Celulares, canetas, carteiras, cigarros
Acesos
Pontinhos pirilampos
E óculos para longe
Para perto
Lentes sem contato
Ninguém percebe os três corpos
O do velho, o do menino, o do cachorro
No papelão
Sob a marquise da cidade grande
Fria
Dentro da noite anônima
Asfáltica.
Mas eis que amanhece
[Sempre amanhece
Mesmo que não haja sol]
Honey Bee Blue
A noite se foi
A Lua se apagou
E o velho
Zarolho
Fita o menino
Com seu único olho
Deep blue
Sorriem
O cachorro ressuscita
Levanta-se sobre as quatro
Pernas cambetas
E balança o rabo quando os vê.
Da cidade grande
Sob a marquise dormem
Um velho, um menino e um cachorro
Sobre pedaços de papelão
Suave colchão
Zunindo em tropel de cavalaria
Passam carros projetando luminosas cores
Rumo aos úteros da noite
Na calçada
Pétrea
Namorados, bêbados, turistas
Advogados, porteiros, travestis, prostitutas
Garçons, oftalmologistas
Protestantes, balconistas e maçons
Seguem em procissão
Passam todos
Caudaloso rio de carnes com botões
Celulares, canetas, carteiras, cigarros
Acesos
Pontinhos pirilampos
E óculos para longe
Para perto
Lentes sem contato
Ninguém percebe os três corpos
O do velho, o do menino, o do cachorro
No papelão
Sob a marquise da cidade grande
Fria
Dentro da noite anônima
Asfáltica.
Mas eis que amanhece
[Sempre amanhece
Mesmo que não haja sol]
Honey Bee Blue
A noite se foi
A Lua se apagou
E o velho
Zarolho
Fita o menino
Com seu único olho
Deep blue
Sorriem
O cachorro ressuscita
Levanta-se sobre as quatro
Pernas cambetas
E balança o rabo quando os vê.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Chovera durante aquela tarde de sábado. Uma chuva fina de dia de Finados. Uma chuva em spray, quase névoa. Se fosse musical, seria em adagio.
À noite, fui ao assistir a um concerto; Sinfonia número 2, de Beethoven. E levei meu guarda-chuva, esse negro e magro companheiro que nos abriga feio um teto ambulante.
Já no salão de espera, antes da abertura da porta do teatro, percebo que entre a multidão de espectadores ninguém levara guarda-chuva. Era eu o único, entre tantos, a carregar aquela figura macabra, muito própria para enterros e derivados. O cabo do dito cujo pesava toneladas no meu braço. Era como portar um cadáver em público. Um defunto de luto.
Terminado o concerto, sai caminhando pela rua, pisando no negrume do asfalto iluminado pela luz do luar. O céu estava luminoso all blue, e repleto de estrelas.
Eu e o guarda-chuva; nossa imagem se movia ao som de "You Shock Me", de Willie Dixon, o poeta dos blues.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
BALADA DA BALA PERDIDA
A bala perdida
É a louca fugida
Do manicômio
No meio da noite
Desvairada, rompe
Relâmpaga
O Blue Velvet da escuridão
Súbita assombração
De dia
É um sol concentrado
Tórrido grão
Percorre, em fio
O pavio
Tênue da luz.
Bêbado pássaro
Sem rumo, sem bússola
Não tem passaporte
Nem sul ou norte.
A bala perdida
É uma bomba atômica portátil
Volátil serpente
Embora vesga e demente
Sempre acerta
Apaga o brilho do olhar
Sempre, sempre
Chega como chega a morte
Sem avisar
Sem bater na porta
Nem pedir licença.
A bala perdida
É o lado avesso da reza
A realização da praga rogada
Decreta ela, inclemente
Que se faça mudo qualquer riso
E se petrifique o sorriso
A qualquer hora crepuscular
Ou do pleno dia
No centro da noite
A qualquer instante
A bala perdida nos encontra
Sempre e sempre.
É a louca fugida
Do manicômio
No meio da noite
Desvairada, rompe
Relâmpaga
O Blue Velvet da escuridão
Súbita assombração
De dia
É um sol concentrado
Tórrido grão
Percorre, em fio
O pavio
Tênue da luz.
Bêbado pássaro
Sem rumo, sem bússola
Não tem passaporte
Nem sul ou norte.
A bala perdida
É uma bomba atômica portátil
Volátil serpente
Embora vesga e demente
Sempre acerta
Apaga o brilho do olhar
Sempre, sempre
Chega como chega a morte
Sem avisar
Sem bater na porta
Nem pedir licença.
A bala perdida
É o lado avesso da reza
A realização da praga rogada
Decreta ela, inclemente
Que se faça mudo qualquer riso
E se petrifique o sorriso
A qualquer hora crepuscular
Ou do pleno dia
No centro da noite
A qualquer instante
A bala perdida nos encontra
Sempre e sempre.
sábado, 25 de outubro de 2008
Madonna, go home
Perdão, Madonna
Mas você se enganou
Aqui nesta terra de muitas raças
Sons
Ritmos e cânticos de todas as partes
A sua arte, Madonna
Tropeçou.
Nas Américas apenas aqui, Madonna
O coração da alma afro
Jamais se plastificou e cantamos dançando
Livres
Todas as músicas
Até em blues
Blues universais que aqui ancorou
Em alvas práias bordadas de azul
E um verde que não acaba mais
Nem jamais terminam os encantos
Dos nossos mistérios
São tantos...
Madonna, nossa voz tem mil sotaques
E um tamborim fiel que a segue
Ao luar das muitas festas
Nosso olhar é dançarino
Nosso andar é bailarino
Somos o sopro das melodias,
[Madonna
Você se enganou
However, please stay on the stage
Com seus blue eyes
E esse corpo metálico se contorcendo
Feito míssil rodopiando
Madonna don't go home
Mas você se enganou
Aqui nesta terra de muitas raças
Sons
Ritmos e cânticos de todas as partes
A sua arte, Madonna
Tropeçou.
Nas Américas apenas aqui, Madonna
O coração da alma afro
Jamais se plastificou e cantamos dançando
Livres
Todas as músicas
Até em blues
Blues universais que aqui ancorou
Em alvas práias bordadas de azul
E um verde que não acaba mais
Nem jamais terminam os encantos
Dos nossos mistérios
São tantos...
Madonna, nossa voz tem mil sotaques
E um tamborim fiel que a segue
Ao luar das muitas festas
Nosso olhar é dançarino
Nosso andar é bailarino
Somos o sopro das melodias,
[Madonna
Você se enganou
However, please stay on the stage
Com seus blue eyes
E esse corpo metálico se contorcendo
Feito míssil rodopiando
Madonna don't go home
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Que dia cinzento
Que dia cinzento
Quantas cinzas
Quantos cigarros no cinzeiro.
Mil sonâmbulos espreitam
Atrás de cortinas o momento certo
Tomar o último gole
De licor em cristal líquido
Escorregar pela névoa
Esticar o corpo, dormir
Mas antes, muito antes
Trancar os sonhos na gaveta
De mógno escuro
Que assim são as noites.
Sombras de lua
Paul Klee as fazia
Vermelhas, azuis
Jamais cinzas.
Que dia cinza
Que noite cinzeiro
Quantas taças estilhaçadas
E o licor escorrendo
Lento.
Vôos de borboletas
Sobre os lençois
Tão brancos
Pálidos mantos
Casulos.
Apagar os sonhos
Desligar os blues
O licor, o cinzeiro
Que dia cinzento
Que dia cinzento
Quantas cinzas
Quantos cigarros no cinzeiro.
Mil sonâmbulos espreitam
Atrás de cortinas o momento certo
Tomar o último gole
De licor em cristal líquido
Escorregar pela névoa
Esticar o corpo, dormir
Mas antes, muito antes
Trancar os sonhos na gaveta
De mógno escuro
Que assim são as noites.
Sombras de lua
Paul Klee as fazia
Vermelhas, azuis
Jamais cinzas.
Que dia cinza
Que noite cinzeiro
Quantas taças estilhaçadas
E o licor escorrendo
Lento.
Vôos de borboletas
Sobre os lençois
Tão brancos
Pálidos mantos
Casulos.
Apagar os sonhos
Desligar os blues
O licor, o cinzeiro
Que dia cinzento
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Partida fria
Disse
Vou partir
E partiu
De si, deixou apenas
Alguns fios de cabelo
Sobre o travesseiro
E uma escova de dentes esquecida
Sobre a pia
Fria.
Partiu e ao partir permaneceu
Em mil páginas de poemas não escritos
Fria pia.
Construiu em mim sinfonias silenciosas
Ah, deixou ainda um par de sapatos
Caídos no chão da sala
Não ouvirei mais seus passos chegando
Escutarei somente pisadas que se distanciam
E o gotejar constante
Da fria pia
Vou partir
E partiu
De si, deixou apenas
Alguns fios de cabelo
Sobre o travesseiro
E uma escova de dentes esquecida
Sobre a pia
Fria.
Partiu e ao partir permaneceu
Em mil páginas de poemas não escritos
Fria pia.
Construiu em mim sinfonias silenciosas
Ah, deixou ainda um par de sapatos
Caídos no chão da sala
Não ouvirei mais seus passos chegando
Escutarei somente pisadas que se distanciam
E o gotejar constante
Da fria pia
Partida fria
Disse
Vou partir
E partiu
De si, deixou apenas
Alguns fios de cabelo
Sobre o travesseiro
E a escova de dentes esquecida
Sobre a pia
Sobre a pia
Fria.
Partiu
E ao partir permaneceu
Para sempre nas mil páginas
De poemas não escritos
Fria pia.
Construiu em mim sinfonias silenciosas
Ah, deixou também um par de sapatos caídos
No chão da sala
Jamais ouvirei novamente seus passos
Chegando. Agora ouço apenas
Pisadas que partem
E o gotejar da fria pia.
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Crise em crise
Esta crise econômico-financeira internacional é característica do sistema capitalista que já é, em sua essência, uma forma de crise permanente. Estamos apenas vendo o outro lado da moeda;"A César o que é de César", é a frase sobre a qual os especuladores deveriam fazer uma reflexão antes de se suicidarem, como aconteceu em 1929, caso a situação evolua para o replay da chamada Grande Depressão.
Não há dúvida; o capitalismo é a lei do cão, o tiro fatal do cowboy, a canga que nos rebaixa.
Não há dúvida; o capitalismo é a lei do cão, o tiro fatal do cowboy, a canga que nos rebaixa.
Bala perdida
A bala perdida
É a louca fugida
Do manicômio
No meio da noite
Desvairada rompe
Relâmpaga
O Blue Velvet da escuridão
De dia
É um Sol concentrado
Tórrido grão
Percorre em fio o pavio
Tênue da luz
Bêbado pássaro
Sem rumo
A bala perdida
É uma bomba atômica portátil
Volátil serpente
Embora vesga e demente
Sempre acerta
E apaga o brilho do olhar
Sempre, sempre
Chega como chega a morte
Sem avisar
Sem bater na porta
Nem pedir licença
A bala perdida
É o lado avesso da reza
A realização da praga rogada
O cantar emudecido
Em pleno dia
No meio da noite
A qualquer instante
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Apenas mais um dia
- Em 1929 houve a quebra da Bolsa de Nova York, conhecida como a Grande Depressão. Milhares de pessoas perderam tudo o que tinham, e famílias compartilharam a mesma casa porque haviam sido despejadas por falta de pagamento; 12 milhões de trabalhadores ficaram desempregados, apenas nos EUA. Investidores se suicidaram, e a crise atingiu o mundo todo.
- A subnutrição se alastrou. Todas as compras consideradas supérfluas foram eliminadas, inclusive a gasolina; no Canadá os carros passaram a ser puxados por cavalos.
- No Brasil, os cafeicultores empobreceram do dia para a noite porque os EUA eram os seus maiores compradores. Este fato gerou desempregos e o comércio interno foi severamente atingido.
- Hoje, os Bancos Centrais dos EUA, Europa e China reduziram a taxa de juros para segurar a cachoeira da crise financeira internacional. O terror do replay de 1929 invadiu corações, mentes e a caixa-forte dos bancos mais poderosos do mundo.
- Ontem, os candidatos à presidência dos EUA, Barack Obama e John McCain, discutiram sobre o que fariam nas guerras do Afeganistão e Iraque.
- Apenas a guerra do Iraque já consumiu US$3 trilhões.
- Então, o melhor a fazer é esconder-se debaixo da cama e ficar ouvindo Rock Me Baby,com B.B. King & Eric Clapton.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Hoje
Hoje não é dia de falar
Nem de escutar. É apenas
O momento de reler
Algumas cartas antigas
Tão antigas são
Que nem letras têm
Partiram todas para longe
Como os ventos
E vestígios jamais deixam
Além
Bastante além
De algumas marcas no papel
Nem de escutar. É apenas
O momento de reler
Algumas cartas antigas
Tão antigas são
Que nem letras têm
Partiram todas para longe
Como os ventos
E vestígios jamais deixam
Além
Bastante além
De algumas marcas no papel
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