quinta-feira, 11 de junho de 2009

BILHETE

Se não houver estrelas, se a noite for escura e os gatos não estiverem
percorrendo muros e telhados - silenciosas sombras - não me
telefone, por favor. Gosto de brilhos noturnos, dos felinos
em seus passeios macios e amores discretos - sempre
no alto das casas, com miados violinos entremeados de oboés.

Nas noites de lua reluzente, ouço Sarah Vaughan cantando
I get a kick out of you, e bebo champanhe abraçado
à minha amante; contemplamos o horizonte e nos beijamos
na varanda enluarada; Romeu e Julieta tropicais. Além de nós,
não há mais nada. Assim, não bata à minha porta, jamais.

Em meio a relâmpagos e explosões de trovão no céu noturno,
arrumo livros nas prateleiras; minhas doces lembranças, meus desencantos,
encontros e desencontros. Guardo na gaveta fotografias de pessoas queridas, outras nem tanto. Organizo cartas escritas para não sei quem, poemas que ninguém leu. Empilho num canto roupas usadas - em festas e solenes casamentos. Depois, apago todas as luzes do apartamento, me deito e mergulho em olímpico salto no meu mais profundo dentro. Nessas noites, não me procure; busque um bar repleto de música porque o amanhecer será suave na meiga brisa do mar. Então, nos encontraremos na esquina daquela rua onde o sol afasta a lua.




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